Mesmo com avanços na legislação, preconceito segue enraizado nas instituições e na rotina de milhões de brasileiros.
O racismo estrutural no Brasil continua moldando comportamentos, políticas públicas e decisões institucionais. Embora a Constituição proíba qualquer forma de discriminação racial, a desigualdade entre brancos e negros segue evidente nos indicadores sociais.
A população negra representa mais de 56% dos brasileiros, segundo o IBGE. No entanto, é maioria entre os desempregados, os que recebem os menores salários e os que mais sofrem com a violência policial. Essas distorções não decorrem de casos isolados, mas de um sistema que normaliza a exclusão racial e dificulta o acesso a direitos fundamentais.
📊 Percepção do racismo estrutural no Brasil avança, mas ainda há confusão
Pesquisa Datafolha realizada em novembro revelou que 59% dos brasileiros acreditam que vivemos em um país racista. Outros 45% disseram que a discriminação aumentou nos últimos anos.
Mesmo assim, 53% dos brancos afirmaram sentir-se também vítimas de racismo, o que revela uma confusão conceitual entre preconceito individual e racismo estrutural. Segundo especialistas, essa confusão atrasa o avanço do debate e a formulação de políticas públicas eficazes.
⚖️ Judiciário reconhece racismo estrutural e rejeita tese de “racismo reverso”
Em fevereiro de 2025, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou a tese de “racismo reverso” em um caso de injúria racial. Um homem negro havia sido acusado de ofender um homem branco. O tribunal entendeu que a legislação antirracismo protege grupos historicamente discriminados — neste caso, a população negra.
A decisão representou um marco no reconhecimento jurídico do racismo estrutural no Brasil e fortaleceu a proteção das vítimas em disputas judiciais.
Além disso, em 2024, o número de processos por racismo cresceu 64% em relação ao ano anterior, totalizando mais de 5.500 ações judiciais. O aumento reflete maior conscientização, embora a maioria dos casos ainda termine sem punição efetiva.
Além do racismo, outros episódios de discriminação institucional seguem se repetindo no país. Veja o caso recente envolvendo um ministro acusado de xenofobia contra baianos.
🟥 Caso Kauã Barbosa mostra como o racismo pune quem reage
Em março de 2025, o lateral Kauã Barbosa, do Internacional, participou de uma partida das categorias de base quando sofreu ofensas racistas. O jogador reagiu — e acabou expulso. O árbitro ignorou a conduta do agressor. O clube retirou sua equipe da competição em protesto.
O episódio, que ganhou repercussão nacional, evidencia um padrão comum: o sistema muitas vezes penaliza quem reage ao racismo, enquanto silencia os agressores. A socióloga Carla Akotirene afirma que “o racismo estrutural cria mecanismos para tornar invisível a violência racial e punir quem a denuncia”.
O futebol, nesse caso, apenas espelha o que ocorre em ambientes escolares, corporativos e até familiares. A reação da vítima costuma ser interpretada como exagero, e o agressor segue protegido pelo silêncio ou pela omissão institucional.
📌 Combater o racismo estrutural no Brasil é mais do que criminalizar a injúria
O País precisa avançar no reconhecimento do racismo como um fenômeno estruturante, que atravessa gerações e limita oportunidades. Campanhas são importantes, mas não bastam. É preciso revisar currículos escolares, ampliar políticas de inclusão e capacitar profissionais da Justiça e da segurança pública.
A desigualdade racial, assim como a econômica, reflete um sistema que concentra privilégios e nega direitos, como mostramos nesta matéria sobre desigualdade social no Brasil.
Enquanto não houver ação direta e contínua, o racismo estrutural no Brasil continuará operando onde é mais perigoso: na normalidade do cotidiano.
Dados do IBGE mostram que negros continuam em desvantagem no acesso à educação, renda, trabalho e moradia, evidenciando que o problema vai além do discurso — está nas estatísticas.
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