Entre o propósito e a sobrevivência: os dilemas da geração Z brasileira diante do mundo do trabalho.
A geração Z no Brasil, composta por pessoas nascidas entre 1995 e 2010, está moldando uma nova forma de se relacionar com o mundo do trabalho, o dinheiro e o próprio futuro. Crescendo em meio à revolução digital, crises econômicas e transformações sociais, esse grupo traz valores diferentes daqueles das gerações anteriores — e isso se reflete nas suas escolhas profissionais, no consumo e na forma como enxergam sucesso e estabilidade.
Com um pé no presente e outro nas incertezas do que está por vir, os jovens da geração Z transitam entre a urgência por segurança e o desejo de propósito. Em um país como o Brasil, marcado por desigualdades e instabilidades, esse equilíbrio se torna ainda mais desafiador.
Quem é a geração Z no Brasil?
A geração Z é a primeira verdadeiramente nativa digital. Desde cedo, foi exposta à internet, às redes sociais e à informação constante. No Brasil, muitos desses jovens cresceram acompanhando o avanço da tecnologia e a popularização dos smartphones ao mesmo tempo em que presenciavam crises políticas, escândalos de corrupção, inflação, desemprego e uma pandemia global.
Ao mesmo tempo, essa geração apresenta índices de escolaridade mais altos, mais consciência sobre diversidade e questões socioambientais, e uma tendência forte ao pensamento crítico, como aponta o estudo da Deloitte sobre as gerações millennial e Z no Brasil. Ainda assim, enfrentam obstáculos históricos: desemprego juvenil, informalidade, falta de oportunidade e ansiedade com o futuro.
Essa nova geração já sente o impacto de um país que envelhece e transforma sua demografia, como mostramos em Como a queda da taxa de natalidade vai moldar o mercado de trabalho no Brasil
O trabalho não é mais o mesmo
A geração Z rejeita com frequência o modelo tradicional de carreira linear — aquele baseado em entrar cedo no mercado, subir degrau por degrau e se aposentar na mesma empresa. Para muitos desses jovens, o trabalho precisa ter propósito, liberdade e equilíbrio com a vida pessoal. Isso explica o aumento da busca por empregos remotos, trabalhos freelancer, empreendimentos próprios ou iniciativas sociais.
O foco deixou de ser “estabilidade” e passou a ser “autonomia”. Embora ainda haja uma valorização da carteira assinada, muitos veem o empreendedorismo ou os trabalhos paralelos como alternativa — mesmo que isso signifique menos garantias.
É nesse contexto que surgem iniciativas criativas de renda, como as exploradas na matéria “5 ideias de renda extra que podem funcionar em Salvador”, que mostram como muitos jovens estão encontrando caminhos fora do mercado tradicional.
Como lidam com dinheiro e estabilidade?
Diferente das gerações anteriores, que buscavam a casa própria e a aposentadoria como metas principais, a geração Z tem uma relação ambígua com dinheiro. Muitos ainda vivem com os pais ou precisam equilibrar estudos e trabalho para ajudar nas contas da casa. A crise econômica e a inflação impactaram diretamente essa geração — e muitos cresceram vendo os pais perderem emprego ou negócios.
Por outro lado, há um interesse crescente em educação financeira, investimentos, criptomoedas e consumo A relação da geração Z com o dinheiro é mais estratégica e cautelosa. Ao mesmo tempo, é também mais flexível. Para muitos, o importante não é acumular, mas ter liberdade para viver.
Esse perfil mais crítico se alinha a valores sustentáveis. Entre eles, destacam-se práticas como as da economia circular comunitária. Nela, a colaboração e o reaproveitamento de recursos surgem como formas de resistir e inovar.
Como a geração Z lida com pressão, ansiedade e futuro
A preocupação com saúde mental também tem crescido entre os jovens trabalhadores. Muitos já percebem que metas abusivas, jornadas exaustivas e ambientes tóxicos não são sustentáveis a longo prazo. Esse cenário contribui diretamente para o aumento da chamada síndrome de burnout no trabalho, que afeta cada vez mais profissionais, inclusive os mais jovens.
A geração Z está entre as mais ansiosas do mundo, segundo a OMS. No Brasil, essa ansiedade é intensificada pela pressão social, o mercado competitivo e a instabilidade econômica.
Mesmo diante desses desafios, muitos jovens são protagonistas de transformações. Eles atuam em áreas como tecnologia, ativismo, cultura e educação.
Essa geração também fala de saúde mental com naturalidade. Além disso, organiza-se em redes, defende a diversidade e busca inovação constante. Politicamente, está mais engajada, embora nem sempre ligada a partidos formais.
Para os jovens, o futuro é algo a ser construído com criatividade, apoio coletivo e autonomia. Mais do que nunca, querem fazer parte de novos modelos: de trabalho, consumo e política.
Com a entrada em vigor das novas regras do estágio em 2025, o cenário para os jovens em início de carreira deve se tornar mais estruturado e focado na formação acadêmica.
A geração Z sabe que herda um mundo em crise. Mesmo assim, acredita que pode reconstruí-lo — à sua maneira.
🙋 FAQ – Perguntas Frequentes
Quem faz parte da geração Z no Brasil?
Pessoas nascidas entre 1995 e 2010, que cresceram em meio à digitalização e vivem intensamente o impacto das transformações sociais e econômicas atuais.
Quais são os principais desafios dessa geração?
Desemprego, instabilidade econômica, pressão por sucesso, ansiedade, mudanças climáticas e exclusão digital em algumas regiões.
O que a geração Z espera do mercado de trabalho?
Mais propósito, flexibilidade, equilíbrio e liberdade para inovar e empreender.
Como essa geração lida com o dinheiro?
Com mais cautela e interesse por educação financeira, embora ainda enfrente muitos obstáculos para alcançar estabilidade.